As ações anunciadas pelo governo de Michel Temer para reorganizar a economia sinalizaram aos agentes do mercado que o governo está reagindo à crise. E as perspectivas para o país, a partir do que foi prometido, são otimistas. Porém, o futuro vai depender do que irá tornar-se realidade da série de promessas feitas até agora, e o que irá passar na Câmara e no Senado. Por isso, os 70 dias após as eleições municipais serão decisivos para compreendermos o que esperar para o Brasil dos próximos dois anos.
O governo irá passar por algumas provas de fogo no Congresso. A primeira será a votação da proposta de emenda à Constituição, que limita, por 20 anos, os gastos públicos federais. Se o texto passar em Brasília, será um excelente sinal para o mercado. Mas se houver rejeição, ficará demonstrada a fragilidade do governo.
Há ainda a promessa em torno de um assunto mais nebuloso: a aprovação, até o final do ano, do texto que trata da Reforma da Previdência. A proposta irá demandar mais negociação e será outro teste para o governo de Temer.
O pacote que prevê leilões para concessões na área de infraestrutura, transporte e saneamento, além da privatização de ativos, principalmente no setor elétrico, é outra grande promessa. Com ele, o governo mostra que não tem a intenção de trabalhar sozinho e devolve para a iniciativa privada a possibilidade de fazer investimentos com mais agilidade. Diferente do governo anterior, que concentrava tudo dentro de casa, numa postura mais desenvolvimentista. Os últimos programas de infraestrutura anunciados por Dilma eram gigantescos, com o Estado no centro das ações. Mas as obras atrasaram e pouco foi entregue.
É claro que o pacote de concessões de Temer precisa ser melhor definido, porém, os números anunciados agradaram ao mercado, por serem mais comedidos. As medidas estão previstas para sair no primeiro trimestre de 2017, num total de R$ 40 bilhões em investimentos. Uma meta mais realista perto do último programa voltado à logística do governo Dilma, que previa recursos de R$ 200 bilhões e que nunca saiu do papel.
O país dá sinais positivos de recuperação. A Ibovespa, por exemplo, que reflete o ânimo do mercado em relação ao futuro, registrava 37 mil pontos no começo do ano. Agora está em 59 mil.
Além disso, a tendência é de entrada de capital estrangeiro. Isso porque há muito dinheiro barato no exterior e pouca oportunidade de investimento. Para o Japão e alguns países da Europa, que possuem dinheiro a juro negativo e têm dificuldades em encontrar boas formas de rentabilizar, os projetos de infraestrutura, as concessões e as empresas brasileiras são excelentes oportunidades de retorno. O recurso é bem-vindo, já que o Brasil precisa de capital para se reconstruir.
Tudo irá depender da negociação com os deputados e senadores. O afastamento de Dilma Rousseff e de Eduardo Cunha provocou reações negativas em alguns blocos políticos e a oposição tem se rearticulado. Mas os parlamentares devem lembrar quem representam. Tirar o país da recessão está acima de desentendimentos políticos.
Arthur Schuler da Igreja, assessor econômico da Faciap e professor da FGV-RJ
Fonte: Faciap