Donos de micro e pequenos negócios continuam sem acesso aos programas de crédito do governo federal para sobreviver à pandemia.
“Eu era a pessoa que não estava acreditando nisso. Só que quando bateu na nossa porta, cara, isso foi muito triste. O trauma ficou, né?”, conta Flavio Rodrigues Barbosa, dono de pequena empresa.
Em menos de um mês, Flavio perdeu a avó e o tio para a Covid-19. Agora está perdendo a empresa que fundou há 16 anos. “A gente está precisando do dinheiro para continuar, que é o capital de giro. Só preciso de um dinheiro pra poder me dar um fôlego, para começar a pagar aluguel, funcionário, né? Hoje estou vendo quase que o fim da minha história como empreendedor”, lamenta.
Sem vender, ele tentou um empréstimo de R$ 60 mil pelo programa do governo para pequenas empresas, mas não conseguiu uma taxa de juros acessível. Acabou demitindo os oito funcionários e saiu às ruas com cartazes pra exprimir a indignação.
O primeiro programa do governo federal para socorrer pequenas empresas na pandemia foi anunciado no fim de março. Outros surgiram de lá pra cá, com a promessa de oferecer crédito a juros baixos – seria um fôlego para os pequenos sobreviverem à crise e manterem empregos. Mas, dois meses depois, essa ajuda não chegou pra muita gente e milhares de empresas estão em dificuldade.
Uma pequena fábrica de estofados de Osasco reduziu em dois terços o salário e a jornada dos quatro empregados. O dono diz que, mesmo assim, as dívidas se acumulam. Para pagar as contas, ele tentou o empréstimo anunciado pelo governo e só encontrou burocracia.
“A burocracia, o tanto de papel que eles exigem, acaba que você não vai conseguir esse empréstimo daqui a 6 meses”, fala o microempreendedor Marcos Aurélio Bassanezi.
Entre as exigências, demonstrativo de resultado, projeção anual de vendas e certidão negativa de débitos com a União.
O presidente da Federação dos Bancos avalia que são muitas exigências, previstas por lei; defende mudanças na legislação para diminuir a burocracia; e diz que, na crise, é o governo quem precisa oferecer garantias para que o dinheiro chegue mais barato às empresas que precisam.
“O governo precisa urgentemente assumir o risco de crédito das empresas que não tem condições de prestar garantia e o governo precisa simplificar as regras. Os bancos estão abertos, estão dispostos. Nós queremos prover crédito, queremos conceder, só que nós não podemos ampliar o risco da crise. E, nós trazermos o risco de crédito para dentro dos bancos, é ampliar o risco de dificultarmos a retomada da economia”, afirma Isaac Sidney.
Segundo a Febraban, só R$ 4 bilhões foram emprestados até agora pelo Programa de Suporte a Empregos para Pequenas e Médias Empresas. Ou seja, só 10% dos R$ 40 bilhões previstos pelo governo. “Os programas governamentais precisam também tratar da taxa de juros. Essas taxas precisam ser pré-fixadas, acessíveis. O momento é importante, todos nós temos que dar a nossa colaboração”, completa Isaac.
O economista Sergio Vale concorda que o governo precisa assumir o risco: “As pequenas empresas, em geral, são as maiores empregadoras de qualquer economia. Elas geram muita renda, geram muito emprego. Então, por conta disso, a gente proteger da melhor forma possível essas empresas durante a crise é o melhor que a gente pode fazer”.
É preciso pressa. Os pedidos de falência subiram 30% em maio no país, e a maioria é de pequenas empresas. “A gente necessita desse recurso. Se eu parar aqui – eu tenho 55 anos – vou trabalhar de quê? Vou sair, procurar um emprego agora?”, questiona microempreendedor.
O Ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, nesta terça-feira (9), que o governo vai lançar ainda esta semana novas linhas de financiamento. O ministério afirmou também que concluiu a regulamentação Pronampe, voltado para micro e pequenas empresas, e que agora os bancos estão se preparando, operacionalmente, para oferecer o crédito.
O BNDES declarou que o programa emergencial de acesso ao crédito anunciado na semana passada, com previsão de emprestar até R$ 100 bilhões, deve estar disponível para as empresas no começo do mês que vem.
Fonte: Jornal Nacional