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DESIGUALDADE

Covid-19 desorganiza economia e põe serviços no fim da fila da recuperação

Estudo do Ibre/FGV mostra que setor respondeu por quase metade da queda de 4,1% no PIB em 2020, perdendo R$ 144,9 bi; agora, enquanto agronegócio, indústria extrativa e tecnologia crescem, segmento volta a sofrer com segunda onda

10 de maio de 2021 às 10:51

Foto: Shutterstock

Um dos efeitos da crise global causada pela covid-19 foi provocar uma desorganização da economia. Num primeiro momento, o fechamento total das atividades presenciais mundo afora provocou uma freada nunca vista na atividade. Porém, enquanto alguns setores foram atingidos em cheio, outros sofreram menos. Com o passar dos meses, essa desigualdade se refletiu também na recuperação.

Em 2020, a retração econômica de 4,1% ante 2019 resultou numa perda de R$ 315,1 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB), conforme estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast. Desse valor, quase metade ficou concentrada na atividade “outros serviços”, que encolheu em R$ 144,9 bilhões, puxada pelo tombo de negócios como hotéis, bares, restaurantes, salões de beleza e academias de ginástica, entre outros.

Para Juliana Trece, pesquisadora do Ibre/FGV e coautora do estudo, chama atenção a “queda generalizada” do setor de serviços, que pesa muito na economia: “É muito importante, ainda mais também pela questão do mercado de trabalho, pois emprega muita gente”.

O setor de bares e restaurantes foi um dos mais atingidos, tanto nos primeiros meses da pandemia quanto na segunda onda, em 2021. “No início, a gestão pragmática ajudou a sobreviver, sangrando, mas a sobreviver. Quando o governo voltou a apertar fortemente as restrições, nos mantemos com uma mistura de gestão e um pouco de fé e loucura”, diz Humberto Munhoz, sócio do grupo Turn The Table, de bares como O Pasquim e a Vero! Coquetelaria.

Por outro lado, mesmo com a retração agregada da economia, houve setores que saíram ganhando. Mesmo nos serviços, fecharam 2020 com ganhos, atividades como intermediação financeira (como corretoras de valores, por exemplo) e serviços imobiliários (cada um com R$ 16,3 bilhões a mais de contribuição para o PIB).

Para Eduardo Zilbermann, economista-chefe da Gávea Investimentos e professor da PUC-RJ, a crise da covid-19 parece trazer mudanças estruturais. O destaque é um impulso na demanda por serviços tecnológicos, que envolvem comunicação a distância. No lado negativo, enquanto a pandemia seguir seu curso, os serviços que exigem contato pessoal, como bares e restaurantes, seguirão perdendo demanda.

A dúvida é sobre o quão permanente serão esses efeitos, diz Zilbermann. Um controle moderado da pandemia poderá exigir a manutenção de algumas medidas de restrição aos contatos sociais por algum tempo, mas, no caso de um freio mais forte na doença, os serviços presenciais poderiam ganhar impulso já no curto prazo, diante da demanda reprimida.

Além dos serviços, também fecharam com ganhos em 2020 a agropecuária (R$ 2,48 bilhões a mais no PIB) e a indústria extrativa (R$ 2,7 bilhões), segundo o Ibre/FGV. Essas atividades são puxadas pelas exportações de matérias-primas, cujas cotações estão em alta. O agronegócio deverá renovar em 2021 o recorde da produção, enquanto o Ibram, entidade que representante das mineradoras nacionais, projeta faturamento de até R$ 270 bilhões em 2021, salto de até 29% ante 2020.

Segundo Zilbermann, esses setores ajudam na recuperação da economia, levando à revisão para cima suas projeções para o desempenho do PIB, mas há dúvidas sobre o “quão sustentável” esse movimento será. Sua continuidade pode ser atrapalhada pelos “problemas usuais” da economia brasileira, além da pandemia, com destaques para as crises política e fiscal.

Preso nesses problemas, o Brasil teve uma década perdida na economia. De e 2011 a 2020, o PIB teve retração de R$ 92 bilhões, ou 1,2%, embora a população tenha crescido 10,1% no período, aponta o Ibre/FGV. Com isso, o PIB per capita encolheu de R$ 39.196 em 2011 para R$ 35.172 em 2020. “É uma economia totalmente estagnada”, diz aponta Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Ibre/FGV.

Fonte: Estadão

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