A Associação Comercial e Empresarial de Cruzeiro do Sul (ACECS), no Acre, completou 112 anos de existência no dia 28 de junho. Mais uma vez, assim como em 2020, não pudemos realizar a festa que esta data merece, por conta das medidas de combate à pandemia, entretanto, não devemos deixar passar em branco tão importante acontecimento.
No extremo Ocidental do Brasil, a cidade de Cruzeiro do Sul foi fundada em 1904, depois que o grande Chanceler Barão do Rio Branco conseguiu pacificar a tensa relação com o Peru. O país vizinho reivindicava a posse da região, onde, esporadicamente, coletores de caucho vindos da região do Ucayali circulavam pelo território onde estavam os brasileiros assentados nos seringais, explorando a borracha.
A história do Acre dá muita atenção à disputa com a Bolívia pelo território do vale do Acre e pouco destaque ao que aconteceu no vale do Juruá. Aqui, destemidos brasileiros, explorando a borracha, lutaram bravamente para assegurar esta terra como parte do território nacional.
Foi neste ambiente que nasceu a Associação Comercial do Alto Juruá. Contra os altos impostos da aduana peruana, na Foz do Rio Amônea, contra também os altos impostos do governo central. Já em 1910 os associados estiveram na linha de frente do movimento autonomista, preconizando uma reforma administrativa que lhes desse mais autonomia no Departamento do Alto Juruá.
Os autonomistas foram rapidamente demovidos de suas pretensões, mas o espírito perdurou na região. A luta para empreender e desenvolver a região foi liderada por homens como Mâncio Agostinho R. Lima, Raimundo Quirino Nobre e tantos outros. Vencendo o isolamento e as grandes distâncias fizeram de Cruzeiro do Sul uma cidade polo, sustentáculo do desenvolvimento regional.
A dificuldade de colocar mercadorias no extremo ocidental do Brasil foi sempre o grande desafio. Percorrendo milhares de quilômetros a partir dos grandes centros de Belém, Manaus e Porto Velho, o Rio Juruá determinava o ritmo a partir do movimento de suas águas. Muitas mercadorias precisavam chegar de avião. A Associação Comercial de Cruzeiro do Sul lutou para que o aeroporto desse condições para esse transporte.
A abertura da BR-364 foi um sonho acalentado durante décadas. Poder trazer mercadorias por estrada, libertando-se das limitações da sazonalidade do regime das águas daria uma nova dinâmica ao comércio da região. Muito empenho e mobilização por parte da Associação para que a região do Juruá finalmente se integrasse ao resto do Brasil por uma ligação rodoviária.
Muitos foram os obstáculos para que a rodovia até Cruzeiro do Sul entrasse na pauta política do Acre. Com os mais diversos argumentos, não foram poucos os que, em nome de um ambientalismo que exclui os seres humanos, defenderam o isolamento, condenando-nos a vivermos distantes de tudo.
Agora, esses mesmos argumentos estão sendo ressuscitados, quando nossa região vislumbra mais um avanço importante, com a futura ligação de Cruzeiro do Sul a Pucallpa, no Peru. Mais uma vez, a garra e a fibra do povo do Juruá há de prevalecer contra aqueles que querem impedir o nosso desenvolvimento, nos condenando ao atraso.
Parabéns aos sócios de hoje, que empreendem e investem em Cruzeiro do Sul, contribuindo para tornar esta terra um lugar melhor para as gerações futuras. Obrigado aos diretores e diretoras da atual gestão, que vem contribuindo para a melhoria de nossa Associação.
Ver essa foto no Instagram
Fonte: Voz do Norte