Cem dias após o início das fortes chuvas que devastaram cidades e prejudicaram negócios no Rio Grande do Sul, a assistência financeira ao setor produtivo avança a um ritmo bastante lento para a recuperação do estado. De acordo com dados do Painel da Reconstrução do Grupo RBS, apenas 26,38% do crédito anunciado para empresas foi efetivamente pago.
Desde o início da enchente, foram prometidos R$ 58,887 bilhões em linhas de crédito para apoiar as empresas atingidas pela inundação. No entanto, somente R$ 15,533 bilhões foram liberados, conforme informações do painel, que é alimentado pelos portais de transparência estaduais e federais.
Os principais obstáculos à liberação dos recursos são os critérios rígidos para acesso aos financiamentos e a falta de flexibilização nas exigências. Embora ajustes pontuais estejam sendo feitos para facilitar o repasse, estes ainda são insuficientes para garantir a rápida disponibilização dos recursos necessários.
O levantamento revela que a maior parte dos valores está sob a responsabilidade da União. Entretanto, mesmo as transferências consideradas “pagas” não garantem que o dinheiro já tenha chegado às empresas, pois parte dos dados disponíveis refere-se apenas às transferências para os bancos responsáveis pelas linhas de crédito.
Dois dos principais financiamentos destinados ao estado exemplificam o ritmo lento da transferência de recursos. No caso do BNDES Emergencial, 53% dos R$ 15 bilhões foram transferidos para instituições bancárias dois meses após o anúncio do programa. Este percentual reflete o valor transferido aos bancos, sem detalhar o que foi efetivamente contratado pelas empresas.
Douglas Ciechowicz, vice-presidente da Federasul (Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul), destaca que uma das principais barreiras para o acesso ao crédito são os requisitos de garantias. Muitos empreendimentos perderam suas principais garantias devido à enchente, excluindo-os do benefício. “Vimos empresas que perderam tudo, incluindo imóveis usados como garantia. Esses prédios, avaliados em milhões, não têm mais valor. É necessário um fundo garantidor para proteger tanto o banco quanto a empresa”, explica.
O vice-presidente jurídico da CACB, Anderson Trautman Cardoso aponta que o sistema ACEs tem buscado, desde o início da calamidade pública, auxiliar no encaminhamento de medidas de auxílio ao Rio Grande do Sul pelo Governo Federal. “Apesar da demonstração de sensibilidade, precisamos de apoio muito mais amplo e efetivo para recuperar o Estado, que é um dos motores da economia do país”, fala.
Para o presidente da CACB, Alfredo Cotait Neto, é responsabilidade de cada associação fortalecer nosso sistema de micro e pequenos negócios e todos os empreendedores brasileiros. E pensando nisso, a confederação lançou a campanha de doações, Nossa União Nossa Força, para ajudar a recuperar as associações comerciais do Rio Grande do Sul. Através da Federasul, a ideia é apoiar a reconstrução de sedes e garantir condições de trabalho e renda para a população por meio do fortalecimento dos empreendedores que formam o sistema associativista. “Temos de fazer nossa parte. Ao fechar negócios ou fazer encomendas, lembrem-se de que há empreendedores no extremo Sul lutando para se reerguer e que precisam de nosso apoio. Agora, mais do que nunca, é hora de agir coletivamente. Nossa conexão fará diferença” disse.