Baixo consumo, queda na renda média, desemprego, inadimplência crescente, elevada taxa de juros e dificuldade de acesso a crédito são algumas das difi culdades enfrentadas pelo setor produtivo atualmente. Carlos Rezende, coordenador do Empreender, programa da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), aponta dois problemas como os principais enfrentados pela entidade: a redução no faturamento das empresas filiadas e a consequente tendência à desfiliação.
Conforme o coordenador, as associações comerciais e empresariais (ACEs) têm procurado melhorar a interlocução com as empresas, a fim de atender às demandas tanto na esfera política quanto na esfera técnica e de serviços. “Além disso, as entidades têm se exposto mais junto ao governo, fi rmando posições contrárias a todo e qualquer aumento de impostos e exigindo a melhoria do gasto público.”
Para George Pinheiro, presidente da CACB, o governo deve reduzir as despesas e ser mais efi ciente. “É preciso criar um ambiente mais favorável à implementação e operação dos negócios. O governo perdeu a capacidade de gastar e, hoje, o crescimento está muito mais focado na geração de empregos pela iniciativa privada. Existe uma parcela significativa de empresas competitivas no Brasil, porém, esta competitividade se esvazia neste cenário burocrático e tributário existente no país”, critica.
A CRISE NÃO É IGUAL PARA TODOS
No setor de bares e restaurantes, o consumo não chegou a cair, mas o consumidor tem trocado o filé mignon por feijoada. Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), diz que “quem gastava R$ 40-50 num almoo está gastando R$ 30. E isso fez com que quem oferece refeições na faixa
de R$ 25-70 perdesse até 30% de faturamento. E quem oferece refeições na faixa dos R$ 15 tem obtido um aumento de 5 a 15% na receita”.
De acordo com Solmucci, a grande característica do momento econômico atual é que a crise não é igual para todos. “Enquanto algumas empresas faturam mais, outras estão correndo o risco de fechar as portas. Uma em cada seis empresas do nosso setor admite que não conseguirá se manter nos próximos 12 meses, enquanto 80% delas já encontrou uma forma de se reinventar e se adaptar ao bolso apertado do consumidor”, observa.

Paulo Solmucci:
“Empresários devem
pensar em ganhos de
produtividade.”
O presidente da Abrasel está esperançoso quanto ao futuro. “A parte mais dura da crise já passou. Agora estamos vivendo uma certa estabilidade, e as coisas podem voltar a melhorar a partir do segundo semestre deste ano”, acredita.
Empresários do ramo devem pensar em ganhos de produtividade, conforme Solmucci. “Isso pode ser feito por meio da automação ou compra de equipamentos que facilitem o trabalho e reduzam a mão de obra. Em função disso, haverá redução no número de empregos no setor. É necessário, portanto, investir em qualifi cação para que essa mão de obra reduzida seja capaz de produzir mais e melhor.”
INOVAÇÃO É O CAMINHO
Segundo Francisco Honório Pinheiro Alves, presidente da Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a crise é um motivo para aproveitar oportunidades. “Estamos olhando sempre a possibilidade de melhorar a efi ciência, buscando novos mercados através da inovação. A busca de parcerias estratégicas é fundamental para alavancarmos o crescimento, mesmo em momentos de desaceleração econômica. Assim, poderemos oferecer aos empresários varejistas um caminho em direção à melhoria da competitividade”, destaca.

Honório Pinheiro:
“Brasil precisa de sistema
tributário simplificado.”
O Índice de Confi ança do Consumidor (ICC) da Fundação Getulio Vargas atingiu o menor nível da série histórica em abril, ao alcançar 64,4 pontos. Diante disso, o presidente da CNDL acredita que também seja necessário resgatar esse nível de confi ança, pois esse detalhe influencia as compras no futuro. Honório Pinheiro defende também “a criação de um ambiente de negócios favorável ao investimento, incluindo um mercado de trabalho mais fl exível, um sistema tributário simplificado e uma política de crédito e financiamento apropriados”.
SETOR ATACADISTA SEGUE RESISTINDO
Tradicionalmente, os empreendimentos atacadistas e de distribuição são alguns dos últimos a entrar em crise e um dos primeiros a sair, porque trabalham com produtos mercearis, isto é, de consumo básico das famílias, como alimentos e bebidas, material de higiene pessoal e itens de limpeza doméstica.
José do Egito Frota, presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), explica que, entre 2009 e 2013, em função dos reajustes no salário mínimo e da ampliação de crédito e do Bolsa-Família, houve um significativo aumento do poder de compra da população. “Com isso, as famílias mais pobres passaram a consumir itens que antes não constavam de sua cesta, elas sofisticaram seu consumo – e relutam em abandonar esses novos hábitos. Mas a situação chegou a um ponto em que mesmo o consumo mercearil passou a sentir os efeitos da retração econômica, tanto que nossos dados apontam perdas para o setor em 2015, algo que não acontecia há vários anos”.
Segundo informações da Abad, em 2015, o setor cresceu 3,1% em termos nominais e apresentou queda de -6,8% em termos reais. O faturamento anual foi de R$ 218,4 bilhões, garantindo uma fatia de 50,6% do mercado mercearil nacional.
Leia matéria completa na revista Empresa Brasil nº 131 (página 14).