Empreender
Empreender
Feira de Santana é um importante pólo comercial e industrial na Bahia. O município interiorano com o maior Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste foi o berço da Rede de Supermercados Corujão. Hoje, são oito na Bahia e um projeto de expansão para todo o País.
Daniela Lacerda é CEO e fundadora do empreendimento que começou como um pequeno negócio. Há sete anos, ela e o parceiro enxergaram uma necessidade na comunidade e migraram do atacado para o varejo no segmento de bebidas.
Muito antes de se tornar a “Rainha do Varejo”, como é conhecida em Feira de Santana, Daniela já havia identificado sua veia empreendedora. Aos nove anos, montou uma barraquinha na frente de casa para vender doces e brinquedos. Para pagar a Faculdade de Direito, aos 17, conciliou as aulas com a venda de roupas, bolsas e sapatos. A combinação de coragem, ousadia e muito estudo garantiram a Daniela o sucesso nos negócios e o título de Forbes Under 30 do Varejo, em 2021.
No XII Encontro Estadual do Programa Empreender, a empresária teve um painel e dividiu sua história com os empreendedores que lotaram o auditório em Feira de Santana.
Primeiros passos
No ramo do vestuário, Daniela chegou à conclusão de que não queria ir pelo caminho tradicional dos comerciantes da região, que era comprar roupas em São Paulo e levar até Feira de Santana. A empreendedora fez pesquisas até descobrir que havia grande potencial de lucro com a venda de roupas importadas da China. Com os produtos diferenciados, conquistou a freguesia em um raio maior do que havia planejado: “Mulheres vinham de outros bairros para comprar os vestidos. Hoje em dia, sites como o AliExpress são conhecidos por todos e usados por muitos vendedores. Mas na época não eram. […] Não gosto de nada que todo mundo tenha. O que me move é a inovação.”
A oportunidade que cruzou o caminho de Daniela em seguida veio do parceiro, que, à época, vendia bebidas em atacado para bares e outros estabelecimentos. Em 2015, os dois viram a oportunidade de aumentar o aproveitamento do estoque com a criação de uma distribuidora 24 horas, que atendesse os clientes nos horários de pico de entretenimento da cidade – shows e casas noturnas: “Foi um boom, a comunidade absorveu a ideia e fizemos sucesso já nos primeiros anos”.
Daniela revela que o segredo foi trabalhar à base de feedbacks: “Se o comprador dissesse que estava faltando carne de churrasco, copo descartável, espetinho, eu procurava maneiras de atender. Quando vi, em dois anos, já tínhamos perfil de um mercadinho, não mais uma distribuidora de bebidas. Minha rede de supermercado nasceu com o cliente falando o que tinha que fazer”.
A esse ponto, a empresária teve que fazer escolhas para manter o foco nos negócios. Apesar de ter passado para frente a loja de roupas e trancado a faculdade de Direito, ela ressalta que nunca deixou de estudar. Empreendedorismo e aprendizado caminham juntos: Quando a distribuidora começou a vestir a marca de supermercado, Daniela fez MBA em Gestão de Pessoas e em mix de produtos.
Os pilares do sucesso
A Rede de Supermercados Corujão – que começou com a integração entre atacado e varejo das bebidas alcóolicas – tem um projeto de expansão de 120 unidades, franquias e lojas de conversão por todo Brasil.
Toda empresa tem seus valores e missão. Daniela assegura que os dela não estão apenas no papel. Quem conhece as lojas, vê de perto o cuidado com a experiência ao cliente, a valorização do capital humano e as pautas ESG (sigla para Governança Ambiental, Social e Corporativa).
Cliente – Em sete anos de varejo, a empresária firmou a identidade da Rede Corujão em torno da experiência do consumidor: “Você não pode contar com a fidelização dos seus clientes com base em preço. Especialmente no mercado varejista, que concorre com o Walmart e os atacados”. Para a empreendedora, conhecer o consumidor é a chave para fechar um bom negócio: “Hoje sabemos que 70% da renda dos brasileiros é voltada para alimentação, transporte e moradia. Portanto, entendemos que uma pessoa que vive com um salário mínimo dá muito valor ao momento de ir ao mercado. O que podemos proporcionar a essa pessoa é um bom atendimento e um tempo de qualidade. Isso é feito com base em feedback, criatividade e olhar humano”.
Além disso, conhecer o cliente é o que salva a empresa em momentos que exigem adaptação, como foi a pandemia da Covid-19. “O fechamento do comércio assustou muito. Mas foi um momento crucial para enxergar meu negócio à frente. A sétima unidade do Corujão foi construída no meio da pandemia, empregou diretamente 213 pessoas, e obteve faturamento diferenciado. Acontece que o nosso segmento foi beneficiado, porque as pessoas passaram a cozinhar mais em casa e buscar novos produtos para diversificar a rotina.”
https://www.instagram.com/p/CftaL0uOlgJ/
Equipe – Para Daniela, investir em capital humano é investir no cliente: “Ao contrário da distribuidora, quem vai atender hoje em dia não sou eu. Não consigo estar presente em todas as lojas. São meus colaboradores, e se eles não estão bem, não tem como a empresa ter um bom resultado”.
A valorização das pessoas passa pela contratação, desde quem se escolhe até a função a ser exercida. A política do Corujão é a valorização de talentos, passando longe de preconceitos de gênero, raça ou idade. “O quadro da Rede é composto em 60% por mulheres. Temos açougueiras, repositoras de estoque, ajudantes de depósito. Sabemos também da importância da diversidade na contratação de pessoas negras, pessoas de mais de 60 anos”.
Dentro da empresa, o objetivo é a criação de um ambiente saudável para todos os colaboradores. Há cursos e capacitações para todos, em parceria com o Sebrae, e iniciativas com foco nas necessidades das funcionárias. A gestão de pessoas, por exemplo, tem um núcleo especial para a violência doméstica, com um RH e uma psicóloga preparados para acolher as mulheres em caso de relatos. “Muitas mulheres sofrem e não têm a oportunidade de relatar no ambiente de trabalho e ter apoio. Quando a empresa apoia a funcionária nesse sentido, há impacto positivo de uma forma geral na sociedade”.
Empreendedorismo feminino – A história da própria empresária foi cruzada por preconceito de gênero. Daniela conta que quando entrou no setor, encontrou uma cadeia esmagadoramente masculina. “Quando comecei a encontrar com fornecedores, foi difícil estar na pele de uma menina de 25 anos. Já me relacionei com pessoas que esperavam meu marido chegar à mesa para falar.”
Daniela vê o empreendedorismo feminino como uma força que precisa ser impulsionada pela sociedade, porque existem características próprias dos negócios empreendidos por mulheres: “Quando falamos em mulher, muitas vezes, se ela empreendeu foi porque não teve a oportunidade de sair de casa, ou com quem deixar os filhos. Além disso, há o caso das mulheres que empreendem para sair de algum sofrimento, alguma opressão em casa. Qualquer empreendedor vai encontrar dificuldades. Sendo mulher mais ainda, por causa da desigualdade”.
Sobre o próprio caso, ela acrescenta: “Ainda existem alguns preconceitos que com o meu trabalho vão ser quebrados. Nosso projeto inclui a reeducação de pessoas que estão no setor mercadista”.
Meio ambiente – A pauta ambiental não é uma preocupação, mas sim um aliado da Rede Corujão. A energia renovável foi algo estudado e implementado com sucesso em todas as unidades da Rede, que possui 100% da energia gerada por conta própria. Os painéis de energia solar de 3.374 placas geram 1.5 megawatts. Além de ser a rede de supermercados com maior economia energética em toda a Bahia, o sistema tem papel importante nas finanças da empresa, gerando uma economia de quase R$ 300 mil no total.
A agricultura familiar também tem espaço dentro da rede. Recentemente, as prateleiras do Corujão ganharam cerca de 200 novos itens produzidos em fazendas locais, com a etiqueta ‘Sabores da Terra’. Quase 5 mil famílias do Sertão Baiano foram beneficiadas. “Além de reduzir custos de impostos, a iniciativa estimula a cadeia de produtores e produtos regionais”, acrescenta a empresária.
XII Encontro Estadual do Empreender
Apresentando o próprio case de sucesso, Daniela fez parte do quadro de palestrantes do Encontro Estadual do Empreender, em junho de 2022. Ela expressa satisfação com a força do empreendedorismo feminino no evento: “Me chamou a atenção o número de mulheres e as histórias incríveis que surgiam, às vezes, na cozinha de casa”.
O evento foi realizado pela Federação das Associações Comerciais da Bahia (FACEB), e lotou um auditório em Salvador ao reunir boas práticas e ideias de empresários de todo o estado.
“O mais importante é levar uma cultura de possibilidades. Às vezes não temos noção de quantas armas podemos usar e o que temos a nosso favor. Muita gente sai desse tipo de evento pensando: tenho um curso para fazer, tenho algo a aprender”. A empresária defende que, em um negócio de sucesso, é essencial estudar e acompanhar de perto o que se coloca em prática: “Ainda falta um pouco de interesse em cultivar o negócio com olhar de aprendizado e cuidado. É bom ver que as instituições se preocupam em facilitar esse processo para os empreendedores que estão matando um leão por dia.”
Empreender 2022
No evento, a FACEB e a CACB apresentaram o novo edital do programa Empreender para a rede de Associações Comerciais. Ao longo de junho e julho, o superintendente da CACB, Carlos Rezende, se reuniu com Federações, virtual e presencialmente, com o objetivo de apresentar as condições de apoio aos projetos e tirar as dúvidas das entidades proponentes em relação à chamada. Além da Bahia, o encontro ocorreu na Federação de Minas Gerais, Pará, Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Ainda há previsão para reuniões com as Federações de Alagoas e do Rio Grande do Norte.
A apresentação de propostas para o Edital de Apoio a Demandas do Empreender continua aberta. Para conhecer as condições de apoio, acesse a CARTILHA.