Conselho Nacional da Mulher Empresária traça perfil da empreendedora brasileira
A pesquisa feita mostra que o desejo das empreendedoras em investir no mercado digital já era predominante antes do cenário de pandemia que o mundo enfrenta em 2020
O Conselho Nacional da Mulher Empresária (CNME) e a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) desenvolveram uma pesquisa inédita que traça o perfil de empresas dirigidas por mulheres e que fazem parte do movimento associativista no Brasil. O objetivo é conhecer características dos negócios, além de identificar desafios enfrentados pelas empreendedoras na gestão, participação e ascensão em cargos de lideranças em instituições de classe.
Em apresentação por teleconferência no dia 14/5, os resultados, consolidados pela empresa Simetria Consultoria, foram debatidos pela presidente do CNME, Tania Rezende, a gestora do CNME e analista do programa Empreender na CACB, Patrícia Rêgo, o coordenador executivo da CACB, Carlos Rezende, e outros membros da equipe técnica e financeira do programa Empreender na CACB.
A presidente do Conselho afirma que a pesquisa contribuiu para identificar as necessidades e os desafios enfrentados, com recortes por região: “O resultado irá ajudar o CNME a direcionar os Conselhos Estaduais a atuarem de forma pontual em cada local”.
O coordenador executivo da CACB analisa que o intuito da pesquisa realizada também é subsidiar estudos para o desenvolvimento de novos projetos que possam contribuir para o fortalecimento empresarial feminino: “A CACB, a partir da pesquisa e do debate com as mulheres empresárias, representadas pelo CNME, espera ser mais assertiva em suas ações contribuindo para o fomento do empreendedorismo feminino e no aumento da participação das mulheres nos quadros das entidades empresariais”, conclui.
Ao total, 1.135 mulheres empresárias ligadas ao Sistema CACB responderam à pesquisa, que contou com a mobilização de todos os estados para que a pesquisa fosse representativa das cinco regiões do Brasil.
Perfil
O estudo revelou que 88,6% das empresas envolvidas são propriedades de uma ou mais mulheres, com escolaridade de nível superior (69%). Os cargos de direção, em 94,8% delas, são ocupados por mulheres. Quando questionadas sobre a motivação para abrir uma empresa, a opção mais votada (34,7%) foi “colocar as próprias ideias em prática”, o que revela a importância da autonomia e da liberdade criativa para as empresárias.
Quanto ao perfil dos negócios, tratam-se de empreendimentos dos setores de comércio e serviços, com, em média, 1 a 4 colaboradores (36%), que atuam no mercado local (52,7%) e possuem faturamento de até 81 mil reais por ano (38,5%). No quesito organização, 55,9% das empresas possuem e implementam ações de planejamento estratégico.
Dificuldades
O recorte por região mostra, de forma clara, as principais dificuldades enfrentadas pelas empresárias no Brasil. Problemas com infraestrutura, como a baixa qualidade ou pouca disponibilidade no fornecimento de energia elétrica, água, segurança, estradas, acessos, internet e transporte público, foi a principal queixa das empresárias das regiões norte (28%), nordeste (20%) e centro-oeste (20%). No sudeste, 28,1% das empresárias relataram que a estrutura da empresa é inadequada ou ultrapassada. No sul, a principal dificuldade relatada (58,8% dos votos) foi em relação ao aumento dos custos empresariais de produção, salariais, entre outros.
Perspectiva
A pesquisa, realizada ao final de 2019, questionava as empresárias acerca dos maiores desafios que enfrentariam em 2020. Logo após “melhorar estratégias de posicionamento no mercado”(44,8%), a opção mais votada (43,3%) foi “incorporar ações focadas no mercado digital”, ponto que merece destaque, pois a pesquisa mostra que o desejo de investir no mercado digital já era predominante antes do atual cenário de pandemia que o mundo enfrenta em 2020.
A presidente do CNME garantiu que a transformação digital das empresas será um dos principais focos de atuação do conselho, inclusive com o objetivo de reduzir o risco de fechamento dos negócios liderados por mulheres no cenário da pandemia: “O que chama a atenção é a necessidade latente que as empresárias apontaram, em todas as regiões, de migração digital para seus negócios, isso em um cenário antes da pandemia da Covid-19, necessidade que deve ter sido potencializada ainda mais nesse momento”.
Vale ressaltar que a pesquisa foi encerrada antes do atual contexto. Segundo o especialista da empresa Simetria, que realizou a execução técnica da pesquisa, a mudança de cenário cria uma oportunidade para um estudo de comparação: “É interessante avaliar, numa pesquisa futura, o que mudou com a pandemia”, projeta.
Representação empresarial
Na avaliação das empresárias, entre as ações de apoio desenvolvidas pelas Associações Comerciais e Federações, estão, principalmente, capacitações, palestras, e eventos para promover networking.
Além disso, 75,8% das entrevistadas afirmaram que as entidades às quais são filiadas, por meio de núcleo, câmara ou conselho, nunca apresentaram um projeto de fortalecimento de empreendedorismo feminino ao governo. 24,2% afirmaram que sim.
As empresárias foram questionadas se tinham conhecimento sobre a existência do Conselho Nacional da Mulher Empresária (CNME). Entre elas, 43,8% responderam que sim, enquanto 39,6% afirmaram já ter ouvido sobre, mas não saber ao certo o que é ou como funciona. A maior taxa de reconhecimento do CNME foi na região nordeste, e a menor no centro-oeste. Em síntese, o norte, nordeste e sul ficam acima da media nacional, enquanto centro-oeste e sudeste abaixo.
Na análise da presidente, quando se fala na ocupação de cargos de liderança dentro das Associações e Federações Empresariais, a participação da mulher tende a aumentar onde existem núcleos e conselhos de mulheres, o que prova a eficácia deles na redução da desigualdade de gênero no âmbito de liderança feminina em entidades empresariais.