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ARTIGO

As animadas Olimpíadas do Brasil

16 de agosto de 2016 às 14:43
Moradores da Mangueira, uma favela do Rio de Janeiro, assistem à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos -Mario Tama/Getty Images

Moradores da Mangueira, uma favela do Rio de Janeiro, assistem à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos -Mario Tama/Getty Images

Quando eu era um correspondente no Brasil há 30 anos, a inflação era galopante. Ela cresceu a uma taxa média de 707,4% ao ano entre 1985 e 1989. O salário das classes mais baixas era aniquilado poucas horas depois de ser pago. O país passou por três moedas – Cruzeiro, Cruzado e Cruzado Novo – enquanto morei no Rio. A única saída para os brasileiros, as pessoas brincavam, era o Galeão, o aeroporto internacional.

Antônio Carlos Jobim, compositor de  Garota de Ipanema (e cujo nome agora é afixado ao aeroporto), observou que “o Brasil não é para principiantes”.

Não era naquela época, tampouco o é agora. É um vasto e diverso país, um Estados Unidos tropical, cujos ricos e pobres são divididos por um abismo. As altas taxas de criminalidade são, em parte, um reflexo dessa divisão. Flexibilidade é um prêmio em uma cultura feita de calor, sensualidade, samba e relaxamento de regras. A vida pode ser fácil. Ou você se adapta, ou perecerá.

Edmar Bacha, um amigo e economista, cunhou o termo “Belíndia” para descrever o Brasil – uma Bélgica próspera empoleirada no topo de uma Índia pululante. Eu escrevi uma história sobre as crianças pobres do norte do Rio, muito longe das praias de Ipanema e Leblon, que se divertiam como “surfistas de trem”, montando nos topos de trens velozes, em vez de pegar ondas do Atlântico. Muitas vezes, eles morriam eletrocutadas. Eu nunca vou esquecer o cadáver retorcido de uma delas no necrotério da cidade.

A desigualdade era parte da história, ainda que naqueles tempos tumultuados não fosse tudo isso. “Tudo bem?” – “All good?” – eu perguntava quando me aventurava nas ubíquas favelas ou cortiços. “Tudo bem!”, foi muitas vezes a resposta, juntamente com um sorriso, mesmo quando tudo era totalmente horrível. Penúria no sol não é penúria no frio.

Uma vez perguntei a José Mindlin, industrialista de São Paulo, se ele estava preocupado com o caminho que o Brasil estava tomando. “Eu sempre me preocupo com o final do mês”, disse Mindlin. “Mas eu nunca me preocupo com o futuro.” Ele estava certo. O Brasil é o cemitério dos opositores.

O país tem sido transformado desde os anos 1980. A democracia e a moeda se estabilizaram. A classe média cresceu exponencialmente, mesmo que esteja sob pressão agora. O Brasil “impeachmou” um presidente, Fernando Collor de Mello, e está no meio de um processo de impeachment contra o outra, Dilma Rousseff, por acusações de manipulação orçamental. A lei já não pode ser comprada com facilidade. O boom das commodities que impulsionou o rápido crescimento do Brasil ao longo de muitos anos chegou ao fim. Ainda assim, o Brasil está abrigado entre as top 10 economias do mundo.

De acordo com o Banco Mundial, a expectativa de vida aumentou para 74,4 anos em 2014, de 63,9 em 1986 (no mesmo período a expectativa de vida dos norte-americanos subiu apenas quatro anos). O analfabetismo ainda é muito alto, mas caiu acentuadamente.

O Brasil é hoje menos Belíndia do que Franconesia – uma França substancial em cima de uma Indonésia. Seus problemas persistem, mas só um tolo negaria que o Brasil vai ser um grande jogador do século 21. Como qualquer um que esteja acompanhando os Jogos Olímpicos deve sentir, o Brasil tem uma poderosa e alegre cultura nacional. É a terra do “Tudo bem”.

Tudo isso é para dizer que estou cansado, muito cansado, de ler histórias negativas sobre estes Jogos Olímpicos no Brasil – a raiva nas favelas, a violência que continua (incluindo o roubo à mão armada de quatro nadadores americanos), o abismo permanente entre ricos e pobres, as ocasionais dificuldades das organizações, o doping russo e o mosquito brasileiro, dinheiro que supostamente poderia ter sido gasto melhor do que a ampliação do Metro, que agora vai do centro para a próspera Barra da Tijuca (assim, entre outras coisas, permitindo que os pobres obtenham empregos lá fora).

Primeiro, o Brasil nunca teria feito o trabalho a tempo para os Jogos Olímpicos; agora que ele mostrou tanto sucesso e realizou uma magnífica cerimônia de abertura, é responsabilizado por não ter resolvido cada um dos seus problemas sociais a tempo para os Jogos.

Há algo no mundo desenvolvido que não gosta de um país em desenvolvimento que organiza um grande evento esportivo. Eu ouvi as mesmas lamúrias na África do Sul na época da Copa do Mundo em 2010: o crime que iria estragar as coisas, a pobreza que era vergonhosa e a ineficiência que afligiria os visitantes. O torneio foi um triunfo. Não me lembro de repórteres vasculhando os mais pobres, as partes mais dominadas pelo crime na Grã-Bretanha em 2012 para encontrar pessoas dispostas a resmungar sobre os Jogos Olímpicos de Londres.

Estes Jogos Olímpicos são bons para o Brasil e para a humanidade, um tônico necessário. Assista Usain Bolt ou Simone Biles e sinta-se animado.

Roger Cohen, artigo traduzido do The New York Times

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